Entrevista

“A gente tem que plantar agora para colher no futuro”

Daniel Trzeciak fala da atuação como deputado federal e comenta possível candidatura a prefeito de Pelotas

Foto: Jô Folha - DP - Após ser vereador em Pelotas, Trzeciak foi eleito e reeleito deputado federal e agora estuda possibilidade de candidatura à Prefeitura

O jornalista Daniel Trzeciak (PSDB) completou o primeiro ano de seu segundo mandato como deputado federal. Após estrear na política como vereador de Pelotas em 2016, Trzeciak foi eleito deputado em 2018 fazendo com que a região voltasse a ter um representante na Câmara dos Deputados. Hoje ao lado de Alexandre Lindenmeyer (PT), entrevistado na última segunda, Daniel é um dos dois únicos deputados federais da região. Atualmente um dos maiores nomes do PSDB gaúcho, Daniel é o principal cotado da sigla para ser candidato a suceder Paula Mascarenhas na Prefeitura de Pelotas. Em entrevista ao Diário Popular, Trzeciak comenta sua atuação como parlamentar e o processo de decisão pela candidatura.

Como foi o último encontro com o presidente nacional do PSDB? 

(Marconi Perillo, presidente do partido, esteve em Porto Alegre, onde se encontrou com o governador Eduardo Leite, a presidente estadual da sigla e prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, e o deputado Daniel)

Foi a primeira vez que Marconi Perillo, presidente nacional do partido, esteve no Estado como presidente. Ele tem uma trajetória dentro do partido e um grande desafio a partir de agora, de poder reestruturar a sigla, que sofreu abalos nos últimos anos, no sentido de diminuir sua bancada no Congresso Nacional, de perder espaço na sociedade. Um partido político é justamente o que representa os desejos da população e o PSDB em algum momento do seu passado recente se desconectou com esses anseios. Agora, o partido precisa voltar a entender e reconectar-se com a população brasileira. O PSDB que governou o País, que tem grandes líderes, que surgiu em 1988 e que tem valores, tem essência, tem trajetória, e que contribuiu para que hoje a gente tenha muito do que foi plantado lá atrás. Não tenho dúvida nenhuma de que é um partido essencial e que precisa seguir colaborando com as suas ideias, com projeto. É um partido de centro, equilibrado, moderado, e que participou de grandes feitos da história, seja a questão da inflação, do plano real. Nesse momento, o novo presidente nacional do partido tem esse desafio de poder compreender o que a população pensa sobre isso para, com mais clareza, posicionar o PSDB diante de mais de 30 partidos políticos que existem, em um cenário em que possamos voltar a ser protagonistas.

O PSDB foi um protagonista desde a redemocratização, e teve essa perda de espaço na última década. O RS é um dos poucos estados em que o PSDB continua forte. Qual o papel do Estado nessa retomada do partido?

O PSDB no Rio Grande do Sul é uma referência pro Brasil. Temos 13 deputados federais em todo o País, dois no Rio Grande do Sul. São Paulo, que é berço do PSDB com Franco Montoro, Mário Covas, hoje tem três deputados federais. Somos poucos, mas o RS de fato é uma referência, pensando que temos um governador do Estado reeleito pela pela primeira vez na história, administramos as maiores cidades do Estado, como Pelotas, Caxias do Sul e Santa Maria. Então também temos esse desafio, num ano eleitoral, de seguir esses projetos. Obviamente, com dois deputados federais e cinco estaduais, o PSDB gaúcho hoje é uma vitrine para outros estados, então o presidente nacional vem buscar essa inspiração aqui, com um nome qualificado, que é o do governador Eduardo Leite, colocado como uma possibilidade lá em 2026 de poder unir o Brasil e mostrar que não é todo mundo igual, que o Brasil é muito maior que essas narrativas colocadas hoje. O PSDB precisa posicionar-se com mais clareza, porque o partido e seus agentes políticos tem posicionamento, que muitas vezes se perdem nessas narrativas de extremidades, então é importante que a gente possa fazer isso. O PSDB perdeu muito espaço, e agora em 2026 a gente precisa voltar ao cenário, assim como somos no Rio Grande do Sul protagonistas, também no Brasil todo.

Seu nome é, naturalmente, o mais cotado para ser candidato a prefeito pelo PSDB em Pelotas, até mesmo pela projeção como deputado. Como está esse processo de escolha?

É a decisão mais difícil que eu preciso tomar desde que ingressei na política, lá em 2016 quando fui o vereador mais votado em Pelotas. Esse momento pré-eleitoral exige responsabilidade, pensamento coletivo, da importância do espaço que ocupamos, para a sociedade, Pelotas, a região sul e o Rio Grande do Sul. É uma decisão que estou amadurecendo com a própria população e com lideranças políticas, entendendo como a gente pode colaborar. Não é sobre ganhar as eleições, é sobre onde posso contribuir mais, seguindo deputado federal ou sendo, possivelmente, prefeito de Pelotas. Claro que me deixa muito feliz, porque ando pelas ruas e a população pede, clama, talvez. Eu fico feliz, porque quando ingressei na política em 2016 eu não imaginava poder, num curto espaço de tempo, ser candidato a prefeito da cidade. Sei que na política há momentos para que as coisas possam acontecer. Eu ainda não tomei a decisão, tenho conversado muito, inclusive com o governador do Estado, com a presidente estadual do partido, que é a prefeita de Pelotas e com o presidente nacional do partido. A gente precisa compreender nosso papel nesse processo e a responsabilidade que a gente tem. No momento certo, vou tomar essa decisão que impacta sobre o futuro da nossa cidade, sobre o que nós queremos e sobre o que conseguimos fazer juntos, preservando as conquistas e avançando num ritmo importante que a cidade precisa e merece. Entendo que não vamos conseguir resolver todos os problemas da cidade, nem sendo deputado federal nem eventualmente sendo prefeito, mas é importante que a gente possa imprimir nosso ritmo de trabalho. Fico feliz por ser lembrado, por estar como pré-candidato com uma vontade da população, mas tem um grupo de partidos políticos que também participam dessa decisão, não é apenas o PSDB. Há outros partidos que administram ao lado do PSDB e o que separa um partido político de outro não é um abismo, são detalhes, então a gente também tem que conversar com outros partidos políticos que já compõem esse grupo para que a gente possa preservar as conquistas e avançar para que a cidade, que tem 211 anos, possa também evoluir em tantas pautas que na minha avaliação precisam.

O senhor completou cinco anos como deputado. Qual é o contraste entre o primeiro mandato, no governo Bolsonaro, e o atual, no governo Lula?

O deputado federal tem um papel de poder representar o Estado em Brasília e de forma muito especial uma região. Nesse caso, eu tive uma experiência de 2019 até 2022 com um tipo de governo e agora um outro tipo de governo. Eu respeito o resultado das urnas, eu respeito quem foi eleito com uma agenda, seja em 2018 do ex-presidente Bolsonaro como em 2022 a do presidente Lula. Eu preciso encontrar solução. Entre ser oposição ou ser situação, eu preciso encontrar solução para os problemas de Pelotas e da região sul nas pautas de infraestrutura, de saúde, de educação. Então eu preciso ter trânsito livre no governo, respeitando e fazendo oposição e defendendo o que eu acredito. O poder de decisão está lá em Brasília, os recursos estão concentrados lá em Brasília e não vêm de forma automática para Pelotas e para os municípios. Não é apertando um botão que o recurso sai de Brasília e chega para pavimentar uma rua, para os hospitais de Pelotas. Precisa de um deputado federal que faça isso, então eu preciso, seja o presidente que for, ter a responsabilidade de representar as minhas convicções e trazer a solução para quem me elegeu deputado federal. Quem escolhe um representante precisa entender que ele tem as suas convicções e eu preciso entender que a minha agenda e as minhas pautas estão ligadas com quem está aqui, morando em Pelotas, então eu não fico dentro do gabinete em Brasília achando que Pelotas é Brasília. Eu estou na rua, estou caminhando para poder, lá em Brasília, nos Ministérios, buscar os melhores encaminhamentos para que as coisas aconteçam aqui. Por isso, eu costumo dizer que não adianta ficar só na teoria, ser oposição ou ser situação, a gente precisa ir em busca da solução, e para isso precisa ter trânsito no governo que for. Não adianta ficar brigando em rede social, não adianta achar que está tudo errado ou que está tudo certo, tem que ir em busca da solução e dos melhores caminhos.

Hoje a principal pauta regional é o aumento dos pedágios e a possibilidade de prorrogação do contrato. Como está acompanhando essa pauta?

Nós temos um contrato hiper, mega ultrapassado, mal feito, que não cabe mais nos dias de hoje. Foi feito lá em 1998, eu tinha 12 anos de idade, com essa concessionária que aí está e que fica até 2026. Por mais que algumas pessoas digam que foi o PSDB que fez a concessão, eu poderia falar que o PT ficou administrando o Brasil 14 anos dos 25 anos de Ecosul e não fez nada, e agora neste governo do PT, o próprio governo cria uma segurança jurídica através de uma portaria para poder seguir o contrato da Ecosul por mais 15 anos, o mesmo governo que também informa que vai fazer a concessão de novas rodovias à iniciativa privada. Não é uma questão ideológica, é uma questão de momento, e esse momento é para que a gente possa ter um contrato moderno, que a gente busque uma solução junto aos órgãos de controle e que, de forma técnica legal ou judicial, busque ferramentas para diminuir o valor da tarifa do pedágio. Ter o pedágio mais caro do Brasil nos impossibilita de crescer, de ter mais desenvolvimento econômico na nossa região. Não adianta a gente achar que vai ter mais indústria, que vai gerar mais emprego na metade sul, se a gente tiver o pedágio com quase R$ 20 a tarifa básica. Isso traz reflexos diretos para a nossa realidade, que hoje, infelizmente, é ruim. Hoje, a gente tem falta de indústria na metade sul, falta de oportunidade porque há muito tempo estamos com freio de mão puxado. Obras de infraestrutura não aconteciam aqui há muito tempo porque nós não tínhamos representantes da nossa região. São 31 deputados federais, dois são aqui da região sul. É muito pouco. Nós ficamos, em Pelotas, 16 anos sem eleger um deputado federal, então tudo isso impacta no que nós estamos colhendo hoje na nossa realidade, e o pedágio também é um fator que passa pela política. Não está na força da caneta do deputado federal resolver. Se dependesse de mim, o pedágio já seria R$ 3, mas não é assim que funciona. Então a gente precisa entender que não é apertando um botão do dia para a noite que a gente vai resolver todos os problemas. Tem que entender toda a burocracia, toda a segurança jurídica que há, e lutar para que se possa diminuir o valor do pedágio, para que a gente possa voltar a crescer. Nós só vamos ter uma região competitiva se tivermos obras de infraestrutura acontecendo e um pedágio com uma tarifa adequada com a realidade socioeconômica da região.

Afora essas pautas emergentes, como os pedágios, quais os principais desafios da região?

A gente avançou muito nos últimos anos. Até 2018, nós não tínhamos um quilômetro da BR-116 duplicado, então nós conseguimos ter, [boa parte] dos 211 quilômetros da BR-116, de Guaíba até aqui, duplicados. Quando a gente conseguir entregar 100% da obra, sai do radar essa pauta da 116 e nos coloca em foco outras pautas importantes, como o lote 4 da BR-392, acesso ao Porto. É essencial nós falarmos de saúde, esse é um ponto positivo na mobilização da nossa região e, com a sensibilidade do governo federal, está no PAC a construção do hospital 100% SUS, que é o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas. Isso é um avanço e precisa ser reconhecido. A partir do momento em que estiver 100% pronto, nos tira mais um foco e nos dá a possibilidade de construir outras pautas importantes para o nosso desenvolvimento. Nós temos muitas pautas que ficaram paradas porque não tinha ninguém em Brasília que pudesse levantar essa bandeira, que pudesse dar voz e vez a essas pautas. É por isso que a BR-116 ficou tanto tempo com a obra parada, é por isso que o Hospital Escola da UFPel não avançava e é por isso que muitas vezes se fala em um novo porto no litoral norte, porque se deixa espaço para esse tipo de trabalho. Exatamente por isso que nós precisamos usar esses espaços de poder para transformar a realidade da nossa região. Não vai ser em quatro, em oito anos, a gente tem que plantar agora para colher no futuro. Se fosse fácil, alguém já teria resolvido antes. Ninguém resolveu porque não é fácil e não é rápido, então a gente precisa ter esse trabalho coletivo, de várias mãos, de forma permanente. Em algum momento eu deixarei de ocupar um espaço na política, deixarei de ser deputado federal, mas eu tenho uma certeza: eu seguirei morando na metade sul do Estado, seguirei morando em Pelotas e eu quero que a cidade possa evoluir, eu quero que a nossa região possa ter, e vamos ter em breve, um novo hospital de Pronto Socorro. Estamos realizando esse sonho porque nós elegemos um governador do Estado que é de Pelotas, que colocou R$ 60 milhões na construção de um hospital de pronto socorro, então a gente rompe uma etapa importante, vence um desafio e coloca a saúde em outro patamar quando tiver um outro hospital de pronto socorro. Nunca ninguém fez antes em 211 anos porque não era fácil, mas com mobilização elegemos um governador.

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